ZAGO, CARLOS EDUARDO
( BRASIL - PARANÁ )
Jovem transtornado que assombrou a UEL no começo desse século, Carlos Eduardo Zago, mais conhecido por Carlão.
Pulou de um edifício, em Londrina, Paraná, suicidando-=se no dia 14 de novembro de 2003.
[RUBEN PILLEGI SÁ EM:
‘
COYOTE REVISTA DE LITERATURA E ARTE No. 8 Londrina, Paraná: Coyote Edições, 2003. Editores Ademar Assunção, Marcos Losnak e Rodrigo Garcia Lopes. Foto da capa: Walter Ney. 52 p. ISSN 1677-5023 Ex. bibl. Antonio Miranda
Criada para ser infame sua mentira nos coloca a favor da
morte e redime nossas falhas com o peso das ausências, métrica
inóspita que hospitaliza qualquer surto poético odeio-te de joelhos
soabre o milho, civilização.
Mutiladora profecia dos anseios que destila sobre a áurea púr-
pura dos ingênuos seja o meu canto o vômito que brilhará sobre o
manto de nossa hipocrisia. Doçuras, enleios, encantos. Sus pérfida
baba revigora dia-a-dia, século após século a insuportável agonia de
teus filhos. Senhora senil que obriga-nos a caldos aceitar a marcha
sobre os corpos.; Te renego agora e para sempre modelo impiedoso
do claustro.
A criança treme de fome e eu bêbado de mim recuo ante a ca-
ridade. Tornei-me objeto, falsa relíquia que se espatifará em algum
entardecer, até lá irei rocar minha modéstia em sua pele como uma
vagabunda pronta para o coito e para ser paga mesmo depois de es-
pancada.
Estou trancado em ti triunfo das equações e vou delirar “vigor
da agonia” até que mate minha piedade algoz do teu rebanho.
Absorto luto pelo absoluto.
(***)
Trágica mágica a trama das palavras
ilógicas larvas pálidas contorcidas
voltas e idas soltas da vida
divinas divas
míticas ogívicas
Shivas
sísmicas cíclicas
líricas explícitas
oníricas
em suas malícias cívicas
rítmicas e poli-rítmicas
permitem que pertencem para sempre
a serpente que pensa ser gente
fremem e sentem e mentem pra mente
promessa presente do ausente
ideia lavrada pedra na página vidrada
restrita criatura pura esquiva fortuita e dura
res que discursa o se da estrutura
mistura estranha que tritura sanha e manha
e derrama ouro sobre a lama lótus sóbria cama
teia que aranha arranha que doce a luz banha
ilusão tamanha que encobre Himalaicas montanhas
drama que arfa se inflama sopro que arde e derrama
alarde da realidade do drama
anjo que ama a lógica da máquina insana
perverso brinquedo da criança humana
reverso preciso daquilo que não foi escrito
atrito perdido no rito no infinito
gravado na folha coo larva no lírio
limo no vidro e pó no monólito
o todo do livro sua dor seu pavor
antes seu grito
a criança crescia para fora
zombando da lágrimas futuras
longe do estranhamento das línguas
espírito puro — braços abertos —
suspenda o instante
que os passos tornem-se asas
no céu da euforia
crina de nuvens
brilhando ao sol
castelos de vidro
em poças d´água
pequenas distâncias
evocando viagens longínquas
os arbustos do jardim
florestas de mim mesmo
enfeitadas de orvalho
abrigo de tribos delicadas
minha coleção de tesouros
reino sem lei
— escondem-se —
os homens chegaram
trazendo novas palavras
A palavra fisga o olhar, peixe maiúsculo na lagoa da face
nenhuma sólida certeza escorre
apenas deixa-se passar o etéreo
e grava-se grave estilhaço do desassossego cego em nossa mente.
O relâmpago da idéia absorverá o impossível nomeado
a armadilha exposta há de gerar certa dúvida dívida com o nada
Polimento de arestas
religião sem festas
dança escura que semeia credos populares
onda viciada a palavra emerge submissa do oceano branco do papel
fuga de rancores, floração do inusitado, mágica fixa
prepare um rebuliço único e unja esses carnavais
tenho os dedos ocupados em posição de assalto
construo procissões para romper os séculos
manejo uma máquina, rememoro possessões antigas
amparado pelo lado oculto da atua presença
te busco impaciente ciência de tentar adentrar o
castelo oblíquo do outro e uma vez lá tomar o cálice
vítreo e transparente do teu entendimento e derramar
um bálsamo malsã que te envenene de sutis cordialidades
meu heroísmo é cínico como um grave rancor adormecido
teu silêncio enoja-me
sei que tua boca mastigará as preces do condenado
mas jamais vai furtar o novo do teu inclemente senhor
agora um karma líquido se oferece a teu negar
os sóis, os hinos, as bandeiras, as políticas do inevitável
irão corromper esses ruídos até o findar do rosnar da presa
e o delicado conjunto que faz da música teu motor não irás
tombar ante o final necessário da resposta a pergunta atônita
Quem recusa um floreio armado de lápis e papel?
Eu não sou um poeta e estou farto do que pareço ser.
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